Viajar sem sair de Madrid
Damos uma volta por Madrid para descobrir recantos e monumentos que nos transportarão a outros mundos com o poder da nossa imaginação. Não é preciso comprar bilhete... Vamos! Por Silvia Roba
Rumo ao EGIPTO
Junto ao Parque del Oeste, no alto de um cerro, encontra-se o monumento mais antigo de Madrid. O Templo de Debod é exatamente o que parece: um templo egípcio, construído na região de Nubia no século II a.C. Como veio aqui parar? A resposta é simples: trata-se de uma doação do Egito ao governo espanhol em 1968, em reconhecimento pela ajuda prestada em resposta ao apelo internacional realizado pela Unesco para salvar o templo de Abu Simbel, em risco de desaparecer devido à construção da barragem de Assuão. O templo foi trasladado pedra a pedra até Madrid, onde foi reconstruído e situado de maneira a conservar aproximadamente a mesma orientação que tinha no seu lugar de origem, de este para oeste. Os entardeceres que se podem contemplar desde o miradouro situado atrás do templo são dos mais bonitos da cidade.
Embora tenha sido construída aqui em Madrid, o Parque de El Retiro conta com uma Fonte Egípcia, a um dos lados do seu lago. A fonte data de 1850, quando se pretendeu fazer do grande pulmão verde da capital um lugar pitoresco, de acordo com os gostos românticos da época.
Sobre o Egito e outros países podemos aprender muito na Casa Árabe, que ocupa as instalações das antigas Escolas Aguirre, um edifício neomudéjar construído em tijolo, junto ao parque de El Retiro. Esta instituição tem como objetivo divulgar a cultura árabe através de exposições, conferências, concertos e outras atividades.
Recordações de NOVA IORQUE
Embora tenha passado a formar parte da história de Madrid como o autor dos leões que ladeiam a entrada do Congresso dos Deputados – e por dar nome à rua mais gastronómica de Chamberí -, Ponciano Ponzano é também o responsável pelo facto de a nossa cidade contar com a sua própria Estátua da Liberdade, sendo esta inclusive mais antiga que a de Nova Iorque! Esculpida em mármore de Carrara, foi concebida pelo escultor em 1853, 26 anos antes que Frédéric Auguste Bartholdi realizara a sua, que o governo francês ofereceria aos EUA para assinalar o centenário da independência daquele país. Um pequeno detalhe que as distingue: a estátua de Madrid é mais pequena, medindo apenas dois metros, em comparação com os 46 metros da estátua de Manhattan.
Para a contemplar em todo o seu esplendor, é preciso visitar o Panteón de los Hombres Ilustres, construído no estilo neobizantino em finais do século XIX para acolher os restos mortais das figuras de maior relevo para o desenvolvimento do nosso país.
Um cemitério INGLÊS
Para conhecer este cemitério tão particular, teremos de deslocar-nos até Carabanchel. O Cemitério Britânico foi criado em 1854 para dar sepultura a todos os cidadãos ingleses que, por pertencerem frequentemente a outra confissão religiosa, não podiam ser enterrados nos cemitérios católicos. Com o passar do tempo, o cemitério acabaria por abrir-se também a outras crenças.
Aberto ao público às terças, quintas e sábados (excepto dias feriados) das 10:30 às 13 horas, este é um lugar realmente especial. Entre as suas 600 sepulturas encontram-se algumas de personagens de grande destaque para a história da capital espanhola, como a de William Parish, diretor do Circo Price entre 1880 e 1916, e genro do fundador, Thomas Price, um domador de cavalos irlandês, pertencente a uma antiga estirpe de acrobatas.
A todo MÉXICO
A forma mais fácil de viajar ao país azteca é visitar a Casa do México, um lugar para o encontro e o intercâmbio de conhecimentos mediante conferências, debates, ateliês, ciclos de cinema e exposições. O palacete onde se situa, na rua de Alberto Aguilera, também tem um espaço dedicado à gastronomia. Assim, no seu restaurante Puntarena podemos provar pratos como ceviche de corvina, milho doce, lima e chile cuaresmeño, javali com mezcal e ervas aromáticas, polvo enamorado…
Mas muito antes de que este grande centro cultural abrisse as suas portas, Madrid já se tinha rendido aos encantos deste país e da sua cultura. Assim, podemos encontrar um Paseo de México no Parque de El Retiro, uma escultura em homenagem ao compositor Agustín Lara, autor do célebre “chotis” Madrid, na zona de Lavapiés, e outra recordando a escritora Sor Juana Inés de la Cruz no Parque del Oeste… Mas ainda nos falta mencionar outro recanto especial: o Espacio México, no Parque Juan Carlos I, uma espetacular escultura vermelha em forma de círculo, ou de donuts se o preferirem, oferecida a Madrid pela Cidade do México, com motivo da celebração da sua Capitalidade Europeia da Cultura em 1992. Trata-se de uma das 19 obras que compõem a conhecida como Senda de las Esculturas, um percurso didático por todo o recinto, para que o visitante possa desfrutar e compreender os vínculos que existem entre a Arte e a Natureza.
Os amantes da arte não podem deixar de visitar o Museu da América, que reúne uma coleção de 25000 objetos, entre as quais se encontram algumas importantes peças pré-colombinas, de caráter etnográfico e ligadas aos vice-reinados.
BERLIM aqui tão perto
Berlim e Madrid compartilham um símbolo muito especial: o urso, animal ao qual está dedicada uma escultura no Parque de Berlim, inaugurado em 1967 no distrito de Chamartín. Mas, sem dúvida, o monumento que mais olhares atrai neste parque é a sua fonte, que mais parece um lago, que conserva três painéis de concreto que pertenceram no seu dia ao Muro de Berlim. Tal como recorda uma placa no local, os painéis foram colocados aqui no dia 9 de novembro de 1990, precisamente um ano depois da queda do muro, um momento histórico que significou o começo da reunificação alemã.
Em Madrid temos também um templo dedicado aos alemães, embora nem sempre o tenha sido. Estamos a referir-nos à igreja de San Antonio de los Alemanes, no bairro de Chueca. Nos começos do século XVII, o rei Felipe III ofereceu o templo e o hospital contíguo para acolher os doentes e peregrinos portugueses que passavam por Madrid. Quando, em 1640, a coroa espanhola perdeu Portugal, a igreja deixou de acolher os súbditos portugueses. Em 1688, Mariana de Áustria cedeu o templo aos alemães católicos que acompanharam até Madrid a Mariana de Neoburgo, esposa do seu filho Carlos II. De planta elíptica e decorada com frescos espetaculares, é um dos melhores exemplos do barroco madrileno.