Tradição e cultura
Madrid flamenco
O desgarro e a dor no cante jondo. A alegria e a felicidade nas sevillanas e nas rumbas. O flamenco é tudo isto, e muito mais. Sempre com paixão e intensidade, qualidades que fazem com que a sua expressividade seja captada por qualquer pessoa, venha de onde vier, compreenda ou não o idioma. Porque através desta arte os sentimentos surgem à flor da pele. Quem nunca se emocionou com o zapateao de uma bailaora, ou com o quejío de um cantaor?
Madrid é a capital do flamenco. Pode parecer uma frase demasiado contundente, mas é a esta cidade que devem dirigir-se os que aspiram a triunfar nalgum dos palos desta arte. Em Madrid é possível assistir em qualquer dia da semana tanto a grandes espetáculos de flamenco nos teatros da cidade, como a pequenos recitais de cante e baile nos tablaos ou salas de flamenco. Porque é em Madrid que se movimenta toda a indústria discográfica que permite dar a conhecer o flamenco ao mundo, e onde se deram a conhecer os grandes artistas do flamenco que percorrem os palcos do país e do mundo, emocionando o público.
Com o auge dos cafés cantantes no século XIX, a arte do flamenco alcançou o seu apogeu na capital. Atualmente, tablaos e bares perpetuaram esta tradição e oferecem a possibilidade de desfrutar cada noite do flamenco mais puro, enquanto desfrutamos de um excelente jantar ou de um bom copo de vinho.
História de Madrid
A zarzuela
A história da zarzuela está intimamente ligada à Madrid mais castiça. A cidade foi berço e motivo de inspiração de muitas obras deste género musical, que refletiam a realidade social dos séculos XVIII e XIX.
A zarzuela, género parecido com a ópera, pode definir-se como uma obra de teatro na qual se intercalam números musicais. Entre as suas personagens mais caraterísticas abundam os chulos (indivíduos das classes populares de Madrid, que se distinguiam por certa afetação e cuidado no trajar, e pelos seus maneirismos), os ratas (ladrões), as amas e a polícia.
A origem deste género remonta-se ao século XVII, quando o Palácio da Zarzuela se converteu no lugar de encontro da corte com os artistas da cidade. Graças às festas que ali se celebravam, surgiu o que se considera como o género lírico espanhol por excelência. Alguns estudos consideram o escritor Pedro Calderón de la Barca como o primeiro autor de libretos de zarzuelas, com obras como La púrpura de la rosa ou El laurel de Apolo.
Altos e baixos
A zarzuela conheceu épocas de esplendor, e também de decadência. Com a chegada da dinastia dos Borbões à coroa espanhola, em 1700, e devido ao desconhecimento do idioma, o género lírico da zarzuela entra em decadência, face à preferência pelos géneros de estilo italiano. No entanto, Ramón de la Cruz conseguiu recuperar o êxito da zarzuela durante a segunda metade do século XVIII, graças a obras como Las segadoras de Vallecas ou El Licenciado de Farfulla, que refletiam aspectos da vida quotidiana da sociedade da época. Não obstante, com a sua morte a zarzuela voltou a ser substituída pela tonadilla (ópera cómica curta).
Será preciso esperar a segunda metade do século XIX para conhecer o momento de maior esplendor da zarzuela, com a estreia das obras de Mariano Pina, Joaquín Gaztambide, Francisco Asenjo Barbieri ou Emilio Arrieta nos teatros da Comédia e no de Drama.
Em 1856 inaugura-se o Teatro de la Zarzuela, na rua Jovellanos, onde se representam obras cujos argumentos se centram na rejeição popular dos ministros italianos da época – como em El barberillo de Lavapiés (O Barbeiro de Lavapiés) –.
Madrid e o seu género chico
Na década de 60 o tempo das obras é reduzido a uma hora de duração, reduzindo-se também o número de atos. Além disso, os temas musicais mais populares e o baixo preço das entradas fizeram triunfar a zarzuela entre as camadas menos privilegiadas da sociedade. Surge assim o “género chico” madrileno. Nele os decorados recriam os ambientes de Madrid e as personagens que retratam as classes mais populares são os verdadeiros protagonistas da trama. Além disso, nas obras representavam-se o baile e a música do chotis, o folclore mais castiço de Madrid.
A estreia em 1886 de La Gran Vía y Cádiz, de Federico Chueca, deu passo aos melhores anos do género, e partir dessa altura e até 1900 nos teatros madrilenos representaram-se inúmeras zarzuelas, com títulos tão conhecidos como La Revoltosa, de Ruperto Chapí, Agua, azucarillos y aguardiente, de Chueca, Gigantes y cabezudos, de Manuel Fernández Caballero ou La verbena de la Paloma, de Tomás Bretón.
Apesar de que nos primeiros anos do século XX se estrearam obras de zarzuela importantes, como La Dolorosa, de José Serrano, ou Las Golondrinas, de Jose María Usandizaga, o “género chico” foi desaparecendo progressivamente, ao contrário das representações teatrais de obras consideradas já clássicas dos nossos palcos.
Atualmente, diferentes teatros de Madrid como o Victoria ou cafés-teatros como o Rincón de la Rodríguez oferecem de forma habitual algumas das obras de maior sucesso deste gênero.
E, claro, sempre é possível ir ao famoso Teatro de la Zarzuela, o primeiro e único recinto criado em todo o mundo para homenagear a música lírica espanhola. Em 2006 completou 150 anos de vida artística. Além disso, o Teatro da Zarzuela conta cada temporada com numerosas promoções e descontos pensados para desempregados, terceira idade, pessoas com discapacidade, grupos e jovens, com a finalidade de aproximar o gênero a todos os públicos.
Além disso, durante a celebração das festas de agosto que contam com as quermesses em honra de San Cayetano, San Lorenzo e da Virgen de la Paloma, o gênero da zarzuela é um dos grandes protagonistas. É habitual que dentro dos atos festivos diferentes associações representem obras conhecidas de zarzuela em diferentes praças da cidade como a Plaza Mayor, a Plaza de Cascorro e a Plaza de la Paja.
Festas de San Isidro
Festas de agosto
A história e a tradição de Madrid não se entendem sem as suas famosas verbenas, três das quais se celebram consecutivamente e em bairros vizinhos, durante o mês de agosto. A primeira é a verbena de San Cayetano, na zona de Rastro/Embajadores, seguindo-se a de San Lorenzo, em Lavapiés, e terminando com a mais importante e a maior de todas, a verbena de La Paloma, em La Latina.
Chulapos, chotis, limonada, ruas adornadas com lanternas, moradores bailando 'agarrados'... Tudo isto forma parte caraterística das festas populares madrilenas, que no verão, quando os dias são mais longos, se vivem com especial intensidade e prazer. Durante duas semanas, as ruas mais castiças da cidade desfrutam dos sabores e dos sons mais típicos, especialmente ao entardecer, quando o calor diminui e apetece tomar uma bebida fresca acompanhada de uma tapa num dos muitos bares de rua que os estabelecimentos da zona instalam durante as festas.
Com um acentuado carácter de festas de bairro, estas celebrações formam parte da Madrid mais autêntica, mais vinculada à sua tradição de povo festivo e sociável, que se mostra de maneira simples, mas com a clara intenção de desfrutar de bons momentos. E, claro está, as festas estão abertas a todos os que a elas se queiram unir. O seu programa de atividades inclui desde jogos, concursos infantis ou campeonatos de mus, até à atuação de orquestras e de grupos de música pop, rotas de tapas e a procissão do santo ou da virgem homenageados.
Os bairros mais castiços
As três verbenas celebram-se em bairros vizinhos, todos eles bem castiços, de edifícios de habitação tradicionais – entre os quais se inclui alguma corrala – e ruas desordenadas cheias de encanto. A verbena de San Cayetano tem lugar nas imediações da igreja dedicada ao santo do mesmo nome, na rua Embajadores, e na Plaza del Cascorro e nas ruas da zona de Lavapiés, como as ruas Argumosa ou Casino, enquanto a de San Lorenzo se celebra no bairro do mesmo nome, junto à igreja do seu santo (rua Dr. Piga) e na rua Argumosa. Finalmente, as festas da Virgen de la Paloma, muito venerada em Madrid, constituem o ponto mais alto das festas de Madrid, tanto em termos de afluência de público como em extensão, ocupando o espaço da Plaza de la Paja e arredores, e toda a rua Toledo até à Plaza de las Vistillas, e às vias adjacentes à paróquia da Virgen de la Paloma, na praça do mesmo nome.
Comércios centenários
Como se fossem máquinas do tempo, alguns comércios de Madrid transportam-nos a outra época. Negócios de hotelaria, lojas, farmácias e livrarias que são cenários imprescindíveis da história íntima da cidade que acontece diante e por trás dos mostradores de mármore e madeiras nobres.
Alguns aparecem nas novelas de Pío Baroja, Benito Pérez Galdós ou Camilo José Cela, e outros estiveram sempre ali, mesmo antes que nascessem os nossos avós. Até quatro gerações regentaram estes estabelecimentos, que não nasceram com vocação de eternidade, para comemorar gestas ou embelezar as ruas, mas que, graças ao profissionalismo e constância dos seus responsáveis, hoje formam parte da história viva da cidade.
Conheça os comércios centenários de Madrid. Reconhecê-los-á pela placa comemorativa, da autoria de Mingote, colocada no passeio, em frente de cada local.
Lojas de toda a vida
Chama a atenção a longevidade de alguns estabelecimentos especializados, cuja proposta singular parece ser garantia do seu êxito e da sua presença no panorama comercial da cidade desde há muitos anos. Entre estes negócios centenários não faltam as alpargaterías (lojas dedicadas ao comércio de alpargatas), jalmerías (selas), guitarrerías (guitarras), cordelerías (cordas), cuchillerías (facas), sastrerías (alfaiates) ou corcheras (rolhas de cortiça).
Farmácias
Para transmitir confiança aos seus clientes, as farmácias eram decoradas com todo o luxo. Os medicamentos, pomadas, ervas e unguentos eram guardados em porcelanas de El Retiro, e em armários e gavetas de estilo rococó, neogótico ou clássico. Exemplos destacados do mobiliário de todas as épocas, as velhas farmácias de Madrid, muitas das quais ainda existem, são belíssimos cenários, por vezes mais próprios de um entorno palaciano que da vida quotidiana.
Cafetarias
Quando as casas eram frias e húmidas, e não existiam a televisão nem a Internet, as pessoas procuravam nas cafetarias uma atmosfera confortável e cálida, que servisse como marco para a sua vida social. As mesas com tampo de mármore, os bancos compridos e almofadados, as madeiras escuras e os tetos decorados ajudavam a criar essa sensação de tribuna pública, onde se discutia política, literatura e as últimas novidades.
Bares e restaurantes
Entre os comércios centenários contam-se numerosos bares e restaurantes, que ao longo de muitas décadas vêm repetindo e aperfeiçoando as mesmas receitas. Casas de comidas cujo segredo está nos seus fogões; cozinhas que são verdadeiros santuários do bom gosto, possuidoras do certificado de qualidade que só a história lhes pode conceder. Especialmente recomendados para ir de tapas, almoçar ou jantar, e para conhecer de perto o passado vivo e o presente de Madrid, uma cidade que conserva algumas das tabernas e mesones mais antigos do mundo.
Semana Santa em Madrid
Natal em Madrid
Relevo Solene e Troca da Guarda do Palácio Real
O Palácio Real é o cenário da cerimónia do Relevo Solene e do Render da Guarda, atos acompanhados por uma banda de música militar da Unidade de Música, e é um espetáculo que merece a pena ver. Uma oportunidade para contemplar a cerimónia do render da Guarda Real, no pátio da antiga residência oficial dos monarcas espanhóis, atualmente reservada para atos oficiais.
Render da Guarda
As pessoas que não possam presenciar este interessante ato dispõem de várias oportunidades para desfrutar do Render da Guarda nas restantes quartas-feiras e sábados do ano, às 11:00 h da manhã, na porta do Príncipe (excetuando os meses de julho e agosto, em que se realizará das 10:00 às 12:00 h), sempre que assim o permitam os atos oficiais e a climatologia. As sentinelas de palácio (duas a pé e duas a cavalo), ao som de um pífaro e um tambor que interpretam marchas militares, executam a coreografia estabelecida, seguindo as ordens e as vozes de comando regulamentares.
Cada 10 minutos, e não coincidindo com o relevo das sentinelas a pé, as sentinelas a cavalo desfilam diante da fachada.
Relevo Solene da Guarda Real
Próxima data: 5 de abril de 2023
O Relevo Solene da Guarda Real tem lugar na primeira quarta-feira de cada mês, ao meio-dia (exceto nos meses de janeiro, agosto e setembro, e nos dias em que se celebre algum ato oficial, ou quando as condições meteorológicas impeçam a sua realização) e começa com a atuação da Unidade de Música.
Segue-se o render dos postos de guarda na Plaza de la Armería, e outros movimentos que antecedem o desfile dos lanceiros e alabardeiros, companhias de fuzis, militares a cargo de peças de artilharia e carros de munições. Uma posta em cena espetacular do relevo da guarda, que reproduz a cerimónia tal como se realizava no tempo dos reis Alfonso XII e Alfonso XIII.
Mais informação:
Relevo solene: admissão livre e gratuita, pela porta de Santiago, que dá acesso à Plaza de la Armería pela rua Bailén.
Render da Guarda: admissão livre e gratuita pela porta do Príncipe (rua Bailén)
Consulta el mapa de estaciones.
Render da Guarda: todas as quartas-feiras e sábados do ano, das 11:00 às 14:00 h (exceto nos dias em que se realize algum ato oficial, ou se as condições meteorológicas o impedirem) / Horário de verão (de julho a agosto): 10:00 - 12:00 h
Relevo Solene: primeira quarta-feira de cada mês, às 12:00 h (exceto nos meses de janeiro, agosto e setembro, e nos dias em que se realize algum ato oficial, ou se as condiç4oes meteorológicas o impedirem).